"Wonderful Twos"
Há quem diga que a fase dos dois anos é a fase mais especial de uma criança, e que provavelmente, iremos sentir muitas saudades... Eu concordo. Eu sou mãe há mais de uma década.
No meu "tempo" de filhos pequenos, o Facebook não existia ainda, mas tínhamos o Orkut, que nem de longe, é essa interação social que temos hoje. Mas é muito interessante como parece que vivi outra maternidade, e olha que não faz tanto tempo assim... Conceitos como "criação com apego", "crises" e até a fase "terrible twos" eram completamente desconhecidas para mim.
Quando questionada uma vez sobre meus filhos terem passado pela fase terrible, eu simplesmente não conseguia me lembrar destes momentos, e passei a pensar sobre isso. Será que eu havia esquecido? Será que eu era uma mãe veterana demais? Ou, será que meus filhos realmente não passaram por ela?
Eu me lembro pontualmente do desenvolvimento deles.
De uma forma impressionante, à cada ano que passava, eram nítidas as mudanças em seus comportamentos. Decidi deixar a carreira de lado temporariamente para cuidar deles integralmente, uma escolha da qual ainda não me arrependo. Claro que ela teve seu preço, mas como uma mãe tentante, meu sonho era criar meus filhos, meu maior sonho... E eu o realizei.
Mesmo sem ter o acesso ao conhecimento que muitas de vocês em hoje (e isso é simplesmente maravilhoso) eu segui levar minha maternidade de forma totalmente instintiva, dedicada e acolhedora. Meu desejo de ser mãe era algo tão intenso para mim que, cada dia, cada mês e cada ano, eram as experiências mais maravilhosa que eu poderia passar ao lado deles. E como uma mãe muito realizada com a maternidade, tudo o que acontecia com eles era simplesmente a minha maior felicidade. Talvez isso tenha feito toda a diferença... não sei ao certo.
Falando um pouco sobre o Desenvolvimento Infantil (me apaixonei tanto pelo assunto, que resolvi fazer a minha terceira faculdade em Pedagogia e na sequência, uma pós em Psicologia da Educação) eu simplesmente "devorava" todos os livros que eu lia sobre o assunto e me realizava com as aulas na faculdade. Quando mais conhecia, mais me maravilhava com a incrível plasticidade do cérebro dos bebês e como, de fato, eles são seres realmente fascinantes.
Você sabe o que é o ID?
É o reservatório de energia do indivíduo que motiva as suas relações com o seu meio, mobilizando os bebês a buscarem a satisfação no mundo necessária para o seu desenvolvimento, estabelecendo diversos objetos - e nesta fase inicial dos dois anos de idade - o objeto principal desta satisfação é a sua mãe. Especificamente nesta idade, surge o Ego, que é o intermediário entre o desejo e a realidade do bebê, ou seja, quanto mais segura for a relação para o bebê, mas ele confiará na mãe de que suas necessidades reais serão respondidas; ainda não é linguagem, é sinal corporal.
Por exemplo, se o bebê sente fome e se o alimento não é oferecido imediatamente, ocorre uma "explosão" de desespero através do choro e, quanto mais sólida for esta relação, mais o bebê aprenderá que existe uma necessidade imediata (a fome, mas que ele pode aguardar um pouco, porque sabe que o alimento virá pela mãe. Isso pode ser aplicado nas diversas manifestações das necessidade de um bebê: fome, choro, dor, angústia ou frustração.
É importante pensar nisso porque, nesta fase, o bebê ainda não se apropriou de um banco de linguagem variado; sua comunicação é deficiente e suas manifestações ainda estão amparadas no choro. A mãe então, começa a fazer o exercício de nomeação: ela dá sentido aos sentimentos que o bebê sente com palavras e, quanto mais rapidamente forem estas respostas, mais o bebê irá se satisfazer com esta prontidão.
Quero chamar esta fase de "Wonderful Twos", porque nela ocorrem acontecimentos muito significativos (e fofos!) dos bebês. Aprendem a andar, a comer e a interagirem finalmente com seus pais: são capazes de fazer as expressões faciais mais lindas que podemos ver: cara de surpresa, admiração, contentamento e o ensaio de palavras ainda não habilidosamente faladas, mas que são engraçadas e muito, muito ternas...
Começam a sair das fraldas, a descobrir o mundo e saber que podem interagir com ele. Lembram da famosa cena de abrir as gavetas e jogar todas as roupas dobradas e organizadas para fora? E depois sentar dentro da gaveta demonstrando uma conquista e satisfação incríveis com um sorriso semi banguelo? Com certeza, é essa saudade imensa que eu sinto desta fase!
Embora seja uma fase de intensa atividade cerebral e cognitiva, acho que o maior desafio para os pais está no exercício dos limites: sim e não. E a resposta dos bebês, principalmente pelo não, é o que leva os pais a pensarem que finalmente chegaram na fase "terrible". Há uma sensação de descontrole, porque até este momento, todo o cuidado e ações eram 100% controladas, e agora, surge um indivíduo único e com vontades. É também, um tipo de separação daquele bebê que era integralmente 'seu'.
Isso pode ser um conflito: mas, só se você desejar que o seja...
Você está vivenciando o nascimento da "inteligência" do seu filho! Este é um momento único e muito especial na vida do seu bebê. Até por volta dos 3 anos, o seu cérebro irá se desenvolver numa velocidade alucinante, quando finalmente completa o ciclo da sua maturação. A palavra inteligência neste contexto, significa a capacidade de adaptação psicológica da criança ao seu meio, para não dicotomizar o conceito do que é 'ser inteligente'. São coisas diferentes.
Comportamentos inteligentes são complexos, e, quanto maior for a interação da mãe com o seu bebê, mais rápida será a resposta dela às suas necessidades. Geralmente os bebês nesta idade "apontam" indicando o seu desejo que são atos reflexos, e, até a aquisição da habilidade linguística, essa será a sua principal ferramenta de interação.
Muitas vezes os pais se perdem neste momento, não sabendo identificar as necessidades particulares dos seus bebês, mas a observação constante, certamente os treinarão a fazer essa identificação rapidamente. O bebê está finalmente passando a ser um ser ativo com maior domínio sobre suas ações, com base nas suas emoções.
Como evitar as "birras"
Está associada á esta fase a birra infantil, e talvez por isso, a infelicidade do termo "terrible". Para entender este processo, é preciso entender primeiro como funcionam estes mecanismos infantis. Com dois anos, temos uma criança capaz de agir no mundo, mas incapaz de criar soluções mentalmente para enfrentar problemas, como por exemplo, o não da mãe.
O uso do não com meus filhos era de uma forma carinhosa sim, mas firme. Eu sempre me posicionava na altura dos olhos deles e falava com um tom de voz diferente: a percepção era imediata à minha mudança de comportamento. Como o cérebro do bebê ainda é imaturo nesta fase, a repetição do ato é necessário, até que o bebê finalmente apreende o significado dele. Essa ação de repetição (por exemplo, jogar um brinquedo no chão diversas vezes, é na verdade uma experimentação do objeto: analisando suas diversas formas de "cair").
Isso é um exercício bastante interessante no que diz respeito às possibilidades infinitas de experimentação de hipóteses, isso é, o exercício da inteligência em sua essência, e claro, seria um grande erro privar os nossos bebês disto, não é mesmo?A grande diferença aqui está no seu comportamento frente a esta ação que parece um "teste" para os pais. Mas não é. Se trata apenas a necessidade do seu bebê em repetir o ato até que ele o internalize. Se a mãe diz "não" para o dedinho na tomada, o bebê vai testar as suas hipóteses até internalizar que é realmente perigoso, e, abandonar a ação.
O não é a linguagem verbal mais usada pelos pais nesta fase, e o grande desafio do bebê é compreender o sentido dos diversos "nãos" que ouve... Isto é, sem dúvida também, um grande desafio para ele.
Nomeação, o grande segredo! Acredito que o grande segredo com meus filhos, foi a minha capacidade de "entrar" no pensamento deles e muitas vezes fiz esse exercício mental de: se eu fosse um bebê, qual seria o meu comportamento? Isso me ajudou muito (e ainda me ajuda muito mais, agora na adolescência) a compreender as suas diversas ações, necessidades e comportamentos.
Só a mãe é capaz de fazer essa nomeação, corrijo, a mãe é pessoa mais apropriada para isso, pois conhece profundamente seu bebê e é uma observadora assídua de sua personalidade Única. Aqui em casa eu tenho filhos com duas personalidades totalmente diferentes, e claro, minha ação foi distinta com cada um deles. Um, respondia mais prontamente, o outro não; Um aceitava o não de boa, o outro não; Um tinha mais prontidão para expressar seus desejos, o outro não.... Essa diversidade nas personalidades dos meus filhos sempre foi muito fascinante para mim.
Eram dois seres i-n-c-r-í-v-e-i-s e com muitas habilidades distintas, que me impulsionavam a ser a melhor mãe que eu poderia ser para eles em suas especificidades e acho que no final, consegui ser com cada um, mais justa possível...Se você me perguntar sobre as fases dos meus filhos, eu digo que foram todas muito especiais. Eu as vivi intensamente, ainda mais porque eles tem quase 5 anos de diferença.
Acho que TEMPO é o grande segredo desta relação dar certo. Atenção, prontidão, carinho e compreensão são os ingredientes para tornar a fase do dois anos, a mais maravilhosa de todas!
Um beijo para vocês com carinho,
P.S: Não me importo que este conteúdo seja compartilhado, muito pelo contrário! Informação útil merecer ser multiplicada, pelo bem dos nossos filhos, sempre. Mas por favor não esquecer nunca de fazer a referência devida. Isso é sempre ético e de muita elegância.