10 coisas sobre o desmame e dicas de como fazê-lo naturalmente
Maiores do que o desejo de uma amamentação bem-sucedida são o medo e as dúvidas que muitas mães têm em relação ao desmame. Este texto é para te ajudar a entender o processo. Na realidade, entender o começo, o meio e o fim da amamentação, de uma forma super cheia de amor e carinho.
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Bebês humanos são os mamíferos que mamam por mais tempo. Isso acontece porque a maturação cerebral demora cerca de três anos para ser totalmente completa. Mamar no seio da mãe é nutrição física de qualidade e também nutrição emocional, e a formação emocional do bebê depende deste vínculo afetivo direto.
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A amamentação é um processo gradual, que depende de vários fatores:
a) uma boa e exitosa introdução alimentar a partir dos seis meses de idade;
b) uma boa formação orofacial através do complexo e perfeito mecanismo da sucção no seio materno; e
c) do processo de socialização do bebê com o ambiente e do complexo desenvolvimento e aprendizado da sua fala, que permite uma comunicação clara dos seus sentimentos e necessidades.
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A amamentação depende, com algumas exceções, da disponibilidade da mãe para amamentar o seu bebê. Para que essa disponibilidade seja plena, a mãe precisa de apoio e reconhecimento do ato de amamentar como sendo fundamental para o crescimento saudável de um bebê, e precisa saber de todos os aspectos envolvidos na prática da amamentação, sempre acreditando no seu empoderamento materno. Quanto mais segura e consciente das suas escolhas a mãe estiver, mais o desmame será tranquilo e aceito como um processo natural do desenvolvimento do bebê.
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O desmame progressivo só será bem-sucedido se existir uma rotina bem definida em relação aos cuidados do bebê. A livre demanda significa o exercício constante do controle da fome e saciedade do bebê através da amamentação: quanto mais o bebê mama, mais leite o seio materno produz; quando o bebê deixa de mamar, o seio interrompe gradualmente a produção do leite. Livre demanda não significa deixar o bebê ficar sugando o seio o tempo inteiro, porque o bebê não sente fome o tempo todo, mas sim saber responder ao choro do bebê de acordo com as REAIS necessidades dele. O comportamento de um bebê com menos de 6 meses de idade diante da amamentação difere muito daquele de um bebê de 1 ano, quando já não se espera que mame tanto.
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O desmame noturno também faz parte do longo processo de maturação do sono do bebê. Antes dos três anos de vida, é normal e esperado que a criança acorde algumas vezes durante a noite: por fome, por necessidade de acolhimento, por incapacidade de voltar a pegar no sono sozinho, e para ter certeza de que seus pais estão por perto. Todas essas necessidades de uma criança são importantes para ela. Mas com uma rotina bem estabelecida pelos pais, a criança passa a condicionar o sono noturno com as regras estipuladas em cada família. O aprendizado sobre dormir faz parte do desenvolvimento infantil e esta rotina depende do arranjo que cada família faz para este momento.
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A criança encontra consolo emocional no seio materno. Ela busca pelo seio da mãe quando se sente estressada, com medo, insegura, diante da separação precoce da mãe e de noções de perigo, passando a se sentir mais segura, amada e certa do cuidado de sua mãe por ela. A amamentação é 90% da nutrição emocional e 10% da nutrição física de um bebê.
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Quanto mais disponível a mãe estiver para atender prontamente as necessidades do seu bebê, mas o desmame tende a ser bem-sucedido. Isso à primeira vista parece controverso, mas o bebê humano ao sinal de qualquer insegurança desta relação, volta a mamar com intensidade para restabelecer a conexão com a sua mãe. A resposta do bebê ao comportamento da mãe de um possível “abandono” através da volta ao trabalho, conflitos familiares em situações de irritabilidade, falta de paciência, cansaço e ausência de prazer no ato de amamentar, ativa a resposta emocional do bebê de continuar amamentando para “avisar”à mãe que não o abandone e deixe de nutri-lo.
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Os bebês não irão mamar para sempre. Muitas mães tem a sensação de ser um processo eterno por conta da privação de sono, de doar o próprio corpo e o tempo, mas o desenvolvimento infantil é progressivo e pontual: tem o momento certo de terminar. É importante saber disto, porque esta programação mental da mãe faz toda a diferença no sentido de abrandar a ansiedade de que o bebê desmame em curto tempo. Uma vez a mãe consciente deste processo, ela estará segura e confiante do seu papel insubstituível neste desenvolvimento, e esta segurança trará para o bebê cada vez mais a certeza de que poderá desmamar e que continuará sendo cuidado por sua mãe.
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A maior causa do desmame precoce forçado é o entorno da mãe. Família, sociedade e indústria exercem uma pressão constante sobre a necessidade de barrar este processo porque não aceitam uma mãe e bebê por longo tempo juntos, conectados. Esta aceitação por parte da família depende de fatores emocionais e inconscientes que refletem uma reorganização emocional das suas experiências próprias com a amamentação (avós, mães, sogras, amigas); da sociedade que por total ausência de empoderamento ainda enxerga a amamentação como um tabu: privação da mulher em exercer uma atividade profissional, privação à prática sexual e por valores morais de dependência da criança à mãe; e por fim, um sistema capitalista que visa lucro acima de tudo, menos da consciência do ato de amamentar como natural, pleno e que depende apenas de dois atores: a mãe e o bebê.
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O desmame é conduzido pelo bebê. Ele sabe o momento, ele sinaliza a sua mãe sobre suas necessidades reais e depende da rotina e respostas que foram dadas a ele. Se ele aprende desde cedo que o consolo só depende do seio, ele vai esperar por este consolo; se ele aprende que a única forma de saciar a sua fome é mamando, ele não irá aceitar outros alimentos; se ele aprende a dormir apenas mamando no seio de sua mãe, ele não vai aceitar outras formas de condução do sono. TUDO depende de um aprendizado, de equilíbrio e dos limites ofertados pela mãe.
Então, o que devo fazer para que o desmame do meu bebê seja um sucesso? Aqui vão algumas dicas:
Compreender que os primeiros seis meses são de amamentação exclusiva, pela necessidade vital do bebê duplicar seu peso e tamanho e para que a maturação do sistema intestinal e imunológico seja bem-sucedida;
Compreender que a introdução alimentar é um processo lento e gradual e que depreende da mãe paciência, persistência e dedicação em elaborar refeições gostosas e atrativas para o bebê, para que ele aprenda a gostar do sabor real dos alimentos e ativar suas preferências pelos alimentos, bem como sua autonomia em se alimentar desenvolvendo suas habilidades motoras e os cinco sentidos (paladar, olfato, audição, visão e tato);
Compreender que o desmame noturno é progressivo e caminha junto com o desenvolvimento cerebral. Que antes dos três anos, provavelmente seu bebê irá acordar algumas vezes à noite e que a rotina durante o dia é fundamental para uma boa noite de sono (para toda família);
Compreender que terceirar os cuidados do seu bebê antes dos três anos pode trazer situações não compreendidas por parte dos seus cuidadores, desafios na forma de educar e estabelecer limites e a necessidade do bebê se revincular com a mãe. Essa dualidade de formas de cuidar pode vir a ser um conflito para o bebê e que irá demandar da mãe a compreensão de suas necessidades reais com a ausência da fala;
Que o desmame não significa substituir o leite materno por outros leites e nem a introdução de bicos artificiais (mamadeira, chupeta pois o reflexo de sucção cessa gradativamente com o desmame progressivo e a criança pode ir direto para o uso do copinho, depois copo normal, tudo isso respeitando o tempo biológico do bebê;
Se você não conseguiu amamentar e introduziu fórmulas, chupetas e mamadeiras, é importante saber que é importante fazer a mesma transição gradual com o bebê, uma vez que o uso de leite artificial à longo prazo pode trazer problemas para a saúde da criança assim como o uso de bicos artificiais. O bebê desmamado precisa de uma rotina alimentar saudável e de acordo com a refeição da sua família (ele passa a comer pequenas porções da alimentação familiar) e ter outras formas de consolo e vínculo sendo a principal delas a atenção e cuidado dos seus pais;
E por fim, o desmame da mãe depende de um processo internalizado da mãe de que o seu bebê cresceu, que já pode ser alimentado e cuidado de outras formas e que o seu desenvolvimento é progressivo e intenso, sendo que a sua figura de consolo e vínculo será eterna para ele. O desmame da mãe significa a possibilidade de voltar a exercer a sua individualidade neste mundo, e a conquista de uma maturidade emocional segura que só a maternidade pode nos proporcionar!