Eu sinto muito…
- Dr.José Martins Filho
- 9 de set. de 2023
- 3 min de leitura

Eu sinto muito quando você se tornou mãe e naquela primeira noite na maternidade e um buraco abriu no chão bem na sua frente, e começou a cair nele em queda livre. A realidade mudou num piscar de olhos quando aquele bebê que antes mexia dentro de você já não está mais lá na sua barriga. Você sente um enorme vazio, mas na verdade, nem tem tempo para ficar na dor desta perda porque seu corpo começa a sofrer mudanças que você nunca sentiu antes: seu corpo não é mais o mesmo, seu útero dói, seu peito dói e essa dor se torna cada vez mais assustadora quando aquele ser que você esperou nove meses para ver o rostinho, está chorando nos seus braços e seu leite demora para descer.
Muitas vozes estão ao seu redor, algumas confusas, algumas que acalentam e outras que te desesperam… Basta esses primeiros dias para você entender que a maternidade, além de exaustiva, vai te forçar a exercer um altruísmo que você jamais exercitou antes. E quando você entra no puerpério, se vê completamente rendida ao seu bebê se perdendo de si mesma. Agora não é a Simone dona e segura de si, independente, conduzindo sua vida com base nas suas escolhas pessoais, mas uma Simone totalmente invisível, onde as pessoas ao seu redor geralmente não te ouvem e não te compreendem e só dizem o que você deve ou não fazer.
Você olha para elas e pergunta desesperadamente: “porque ninguém me disse que a maternidade era isso?”. Tarde demais, agora está nas suas mãos a responsabilidade do cuidado deste bebê. O que fazer agora com o sentimento de exaustão misturado com o sentimento mais pleno de ser mãe? Eles se confundem o tempo todo na sua cabeça e suas emoções estão muito desorganizadas neste momento. Você está afundando. Eu sinto muito por não terem de preparado para tudo isso, por ainda acreditarem que a maternidade é orgânica e quando nasce o bebê nasce a mãe.
Na verdade, todas as mulheres da sua família sentiram exatamente o que você está sentindo agora e aprenderam a sufocar o que sentiam, o que precisavam de fato e passaram a tentar se adequar insanamente no ideal de mãe perfeita que todos ainda hoje cobram de nós. Quando a gente entende que a exaustão materna faz parte da sua vida agora como mãe, você vai precisar escolher quais lutas vai lutar e estabilizar esses sentimentos desesperadores para encontrar algum tipo de alívio e paz nesse processo. Tudo na vida é difícil e a gente precisa escolher o nosso difícil diário. Apenas um por dia, por favor.
Amamentar é difícil? Eu escolho aceitar e reconhecer que eu sou a única provedora de um alimento fundamental que determinará o futuro sadio do meu filho, nutricionalmente, mentalmente e emocionalmente. O peso da responsabilidade é meu mas a admiração e o amor incondicionais são meus também. A maternidade será a única oportunidade de você experimentar esse amor e ele é um presente impagável! Talvez a única forma de neutralizar o sentimento de desespero dentro de nós seja o de reconhecer todos os dias, para nós mesmas, que estamos fazendo um trabalho extraordinário na vidinha deles.
Mesmo errando e acertando, pois nunca fomos mães antes, o aprendizado e o crescimento é diário. Seja gentil com você mesma o tempo todo. Viva um dia de cada vez. Recalcule a sua “rota materna” todas as vezes que sentir estar voltando para esse lugar de desespero. Aprenda com o ontem para fazer totalmente diferente no hoje. Anule completamente a culpa de ontem e avance no seu amadurecimento como mãe daí pra frente. Nada, absolutamente nada dura para sempre. Viva apenas um dia de cada vez. A maternidade deveria ser assim também.
Todo o meu amor, meu carinho e meu apoio para cada uma de vocês, mães maravilhosas e únicas.

תגובות